Kléber Aran Ferreira da Silva começou a ser investigado em setembro de 2020 e foi preso no último sábado (9). Ele afirmava incorporar o médico alemão Adolph Fritz para realizar supostas cirurgias e tratamentos espirituais.
Kleber Aran Ferreira da Silva, líder da Associação Sociedade Espírita Brasileira Amor Supremo (Sebas), foi condenado a 20 anos e cinco meses de prisão em regime fechado por violação sexual mediante fraude contra três mulheres que frequentavam a instituição. Ele também foi condenado ao pagamento de uma indenização de R$ 50 mil para cada vítima por danos morais.
Kléber Aran Ferreira da Silva diz incorporar o espírito do médico alemão Adolph Fritz, conhecido popularmente como Dr. Fritz, responsável por tratamentos espirituais. As investigações apontam que ele e se aproveitava da fragilidade das pessoas para cometer crimes sexuais.
A condenação foi divulgada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) na tarde desta segunda-feira (11), dois dias após o homem de 50 anos ter sido preso durante um evento aberto ao público, em que seriam realizadas supostas cirurgias espirituais.
Para o MP, ele operava um "esquema de abuso de poder e manipulação psicológica", atraindo seguidores em busca de cura e orientação espiritual. O homem utilizava a posição de líder para assediar mulheres vulneráveis, convencendo as vítimas de que manter relações com ele era necessário para fornecer "energia sexual" para as entidades. Elas relataram que eram coagidas a consumir bebidas alcoólicas durante os encontros, o que aumentava facilitava as práticas criminosas.
Conforme o MP, a Justiça destacou a gravidade das ações, ressaltando a quebra de confiança por parte de Aran, que explorava a fé e a questão emocional das seguidoras para satisfazer seus desejos, e reconheceu a continuidade delitiva, considerando que os abusos foram praticados por um longo período e de forma reiterada.
A sentença foi proferida pela 4ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Salvador, que também expediu o mandado de prisão contra ele. A ordem foi cumprida por equipes do Departamento de Proteção à Mulher, Cidadania e Pessoas Vulneráveis (DPMCV) da Polícia Civil no bairro da Pituba, onde fica o templo .
A condenação acatou denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público da Bahia, por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de Salvador e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que instauraram uma investigação própria a partir de notícias de abusos encaminhadas à Ouvidoria do Conselho Nacional do Ministério Público pelo projeto “Justiceiras”, que atua na proteção dos direitos de mulheres e no combate à violência de gênero.
Em setembro do 2020, o órgão recebeu relatos de quatro pessoas, das quais três eram mulheres, todas da capital baiana. A polícia e o MP não confirmaram se essas três pessoas são as mesmas que procuraram o órgão estadual há pouco mais de quatro anos. Na época, a defesa de Kléber Aran disse que as acusações eram falsas.
Em abril de 2021, o MP-BA cumpriu mandados de busca e apreensão na "Operação Cristal", desencadeada por meio de atuação conjunta do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e da 24ª Promotoria de Justiça de Salvador. O objetivo era complementar as provas das práticas ilícitas relatadas pelas vítimas.
Foto: Alan Oliveira/G1 - Sede do Ministério Público da Bahia (MP-BA), em Salvador |
Na oportunidade, o MP-BA divulgou que elas eram levadas a participar de rituais supostamente religiosos, mas que serviam, na verdade, para "satisfação dos desejos libertinos" do investigado. O órgão detalhou que o suspeito conseguia o silêncio da pessoas por meio de ameaças à integridade física e mental.
Durante as investigações, foram apresentados pelas vítimas ao órgão estadual arquivos de áudio extraídos de conversas de aplicativo de mensagens, revelando "as ações de Kléber Aran para submetê-las à sua lascívia, após criar a ilusão de que teriam sido escolhidas para serem as guardiãs do Cristal”.
Ainda conforme informações do MP, essas pessoas eram cercadas de uma atmosfera de confiança e apreço, levadas a acreditar que a conduta do investigado partia de necessidades espirituais. Após a concretização dos crimes, ele submetia as mulheres a “situações de humilhação e subserviência, permeadas por forte violência espiritual, psicológica, sexual e até financeira”.
Segundo a polícia, Kléber Aran tinha vários endereços, pois promove atos religiosos dessa natureza em cidades como Manaus (AM), São Luiz (MA), Maceió (AL) e Aracaju (SE). Nas redes sociais, ele se apresenta como médium e divulga cursos de iniciação à mediunidade.
Preso por suspeita de cometer crimes de importunação, abuso e violação sexual, o líder espiritual Kléber Aran Ferreira da Silva afirma incorporar o espírito do médico alemão Adolph Fritz em seus atendimentos. O líder religioso chegava a falar com sotaque estrangeiro durante os chamados momentos de cura.
Por, g1 Bahia.